29.3.11

Dune 2 - Retroanálise



A sequela de Dune foi lançada apenas alguns meses depois do primeiro jogo, normalmente quando dois jogos da mesma saga têm um espaço tão curto a separa-los é de esperar que o segundo seja apenas um “copy-paste” do anterior, mas a verdade é que Dune 2 é um jogo tão diferente do primeiro que nem parece fazer parte da mesma saga.
O jogo foi lançado no mesmo ano do seu antecessor para Ms-DOS, Amiga e mais tarde até teve direito a uma versão megadrive, mas para esta análise vamos-nos focar apenas na versão PC.

Hoje em dia Dune 2 é considerado como o primeiro RTS criado, mas isto é apenas uma meia-verdade, antes deste jogo já existiam tentativas de se criar um jogo de estratégia em tempo real, como o Stonkers, Ancient art of War, Herzog-Zwei e até o primeiro Dune tinha uma forte componente de RTS, no entanto, foi este o jogo que criou a fórmula e as bases pelos quais os jogos actuais se regem, como a construcção de uma base militar, o treino e montagem de soldados e veículos, a recolha de minérios preciosos que servem como moeda de troca para as funções previamente descritas e a afixação de objectivos para cada missão (geralmente a destruição do inimigo).


Se já jogaram algum RTS é provável que estejam mais que familiarizados com a fórmula, usam o rato para escolher as vossas unidades e edifícios e daí dão-lhes as ordens que acharem mais conveniente, estas podem ser guardar, mover, atacar, retirar, construir, reparar ou recolher dependendo da unidade ou edifício em que clicam, pois se algumas unidades apenas têm fins militares, outras servem para construção ou recolha de minerais.
É vos dada também a escolha de 3 facções diferentes, em teoria estas têm filosofias de vida e motivos diferentes para conquistarem o planeta Dune, mas na prática existem poucas diferenças entre as facções, cada uma tem um poder especial e um veiculo militar que lhe é exclusivo, mas estes só podem ser adquiridos nas ultimas missões do jogo, de resto as suas diferenças são tão mínimas que pouca ou nenhuma influência têm no jogo, seria no entanto de esperar que isto tornasse as facções equilibradas, mas tal não acontece, a verdade é que as unidades e poderes especiais exclusivos estão muito mal distribuídos criando um sério desequilíbrio a favor da facção Harkonnen, estes têm o tanque mais poderoso do jogo e o seu poder especial é um míssil nuclear que pode devastar uma base inimiga com um só clique, felizmente (ou infelizmente dependendo da vossa perspectiva) a I.A. do jogo não sabe compensar pela falta de precisão do míssil.

Isto leva-nos à minha próxima critica, a inteligência dos nossos oponentes, estes são francamente.... burros, o jogo não usa tácticas nem estratégias, este vai passar o jogo inteiro a atacar sempre os mesmos alvos independentemente da vulnerabilidade quer dos seus alvos quer de outros pontos da nossa base e fá-lo sempre em linha recta, ou seja, o jogo nem sequer nos tenta flanquear ou enganar, para compensar pela (falta de) inteligência do jogo, os programadores deram algumas vantagens injustas à máquina, para começar esta recebe algum dinheiro sem ter que o minar a intervalos fixos, pode também construir edifícios quase tão rapidamente como nós os destruímos e pode construir-los sobre as nossas unidades atacantes, ou seja, coloca-o sobre os nossos tanques, ficando intacto e nós perdemos as nossas unidades,  infelizmente o jogador não tem a opção para utilizar esta táctica, outro problema que o jogo tem é o facto de nós apenas poder-mos escolher uma unidade individualmente, isto quer dizer que quando criamos uma grande força de ataque, temos de enviar cada unidade uma a uma, o que torna o processo monótono.

Mas verdade seja dita que mesmo com estas vantagens os inimigos são tão fáceis de se lhes dar a volta que mesmo nas ultimas missões em que estamos a enfrentar 4 exércitos em simultâneo a dificuldade é no pior dos casos apenas moderada, aliás, é tão fácil de dar a volta à I.A. com um pouco de prática conseguimos fazer com que esta  dispare sobre os seus próprios edifícios, podemos até construir uma base nova em alguns pontos do mapa onde a I.A. nunca nos atacará porque não está programada para tal, no entanto é difícil criticar o jogo por isso, a verdade é que tendo em conta as limitações do hardware da época, a Westwood fez um trabalho incrível,
É difícil de julgar os gráficos pelo simples facto que, antes de Dune 2, nunca houve nenhum jogo igual, apesar de tudo os gráficos são bastante agradáveis, as bases são coloridas e detalhadas, os desertos são áridos e perigosos, e as explosões são sempre um festim para os olhos, principalmente quando é uma base inimiga que explodiu.
Temos também direito a algumas cutscenes no jogo que estão visualmente espantosas para a altura.


A banda sonora do jogo é muito boa, as músicas techno combinam bem com o ambiente futurista do jogo e estas mudam de acordo com o que está acontecer no jogo, se estamos num momento calmo a música é também calma, mas se estamos numa batalha este muda o seu ritmo. Os efeitos sonoros são também muito bons em particular as vozes, todas as nossas unidades têm voz e até nos dizem quanto estamos a ser atacados.

Ao todo temos 3 facções, cada uma com 10 missões, no entanto estas missões tornam-se um pouco repetitivas, consistindo quase sempre em destruir o inimigo.

Dune 2 não é perfeito, mas muito dificilmente o seria, no entanto deixou-nos um grande legado, é óbvio que a Westwood queria que o seu jogo ficasse na história porque esta não poupou esforços em nada, gráficos, música, jogabilidade, para a época não se podia esperar mais, ainda hoje é um jogo muito divertido e é bom para quem nunca tocou num RTS, melhor ainda, o jogo é abandonware, podem fazer o download do jogo de graça e dentro da legalidade.
Gonçalo Tordo




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